Contemplo esta Candidatura com entusiasmo, mas também com algumas doses de desassossego.

Em 2018 foi aprovada, por unanimidade, na Comunidade Intermunicipal das Beiras e Serra da Estrela uma Moção de apoio à Candidatura da Guarda a Capital Europeia da Cultura 2027. Esta Candidatura ultrapassa, em grande escala, a conquista de um “dístico”, sendo um projecto de âmbito regional que tem como principal finalidade o desenvolvimento do nosso território através da sua dimensão cultural, considerando e valorizando a qualidade de vida das nossas gentes.


Contemplo esta Candidatura com entusiasmo, mas também com algumas doses de desassossego. O projecto tem obrigatoriamente de ser estruturante não só para a Guarda, como também para toda a região. Os tão badalados contratos de prestação de serviços, as comissões e a recente inauguração da sede têm forçosamente de ser “ofuscados” por um conjunto concertado de medidas e iniciativas capaz de nos fazer acreditar nesta Candidatura. Aplaudo, embora não tire o chapéu, o recente lançamento da Agenda Cultural da Beira Interior.


Parece-me, até porque sou Dirigente Associativo, que as associações culturais, as empresas, a comunicação social, a sociedade civil, os órgãos dirigentes nos Municípios e os artistas ainda estão pouco embrulhados com a referida Candidatura. Será que este projecto não é de todos e para todos? Será que o envolvimento de todos não é fundamental para que este projecto se materialize e se perpetue?


Os Municípios apoiantes e envolvidos neste projecto têm a obrigação de questionar e exigir respostas aos promotores e responsáveis da Candidatura, pois considero que a mesma, bem “trabalhada”, poderá ser uma alavanca relevante para o desenvolvimento de toda a região, afirmando-a na superfície regional, nacional e europeia. É importante edificar contextos que ambicionem, verdadeiramente, o desenvolvimento cultural, social e económico do território. Fragilizar a desertificação, corrigir assimetrias e descerrar portas são objectivos imprescindíveis e inquestionáveis. O encontro de culturas e experiências, assim como o debate e a partilha constituem configurações que outorgarão um contributo considerável à Candidatura da Guarda.


Robustecer os encadeamentos entre os Municípios envolvidos, relembro que são 17, bem como entre esses mesmos Municípios e todas as cidades geminadas promoverá, terminantemente, a cooperação entre as instituições culturais, havendo, desse modo, a possibilidade de se erigir uma rede de permutas artísticas e culturais. É certamente relevante e pertinente enaltecer a riqueza e a diversidade das culturas, de forma a desestagnar e a despertar, no cabimento cultural, todos os intervenientes.


Este tipo de projectos, e tal como já mencionei, aquartelam finalidades de “rentabilidade” cultural, económica e social. Presenteiam os visitantes com a oportunidade de aperfeiçoar o seu potencial de criatividade através de uma participação activa na captura de experiências no local de destino, com acostagem nas áreas educacional, emocional, intelectual, cultural e social. Estas convivências e intercâmbios de experiências pretendem-se verdadeiras e genuínas, conjecturando a participação na aprendizagem das artes, do imaterial e do património, e apadrinhando a conexão com os residentes e a cultura local. Será que o património cultural não é uma mais-valia para qualquer região ou País? Será que o mesmo não pode servir de “cartão de visita” para qualquer território? Será que não é essencial, por parte das entidades públicas e privadas, perspectivar a valorização da cultura? Será que não é fundamental que o território seja sustentável?
É determinante que todas as regiões também sejam lugares de inovação, não só no que diz respeito às políticas culturais e de “renovação” artística, como também de “modernização” ambiental, urbana, social e económica. Será que não é necessário gerar novos artistas? Será que não é essencial conceber novos públicos? Será que todos não somos nós?


A Guarda merece ser Capital Europeia da Cultura, nós merecemos que a Guarda seja Capital Europeia da Cultura, no entanto precisamos de sentir que este “projecto de território” tem alma e está no caminho certo. O tempo urge, e talvez seja necessário reflectir e alterar alguns procedimentos.