Portugal agasalha uma crise profunda nos condomínios social, moral, cultural, económico, educacional e político.

As ambições da grande maioria dos portugueses estão completamente hipotecadas. Andamos desequilibrados, descalços, maltratados, desanimados, perdidos, desaproveitados, desesperados, a passar fome, cheios de frio e sem um pingo de humor sempre à espera da próxima deliberação desastrosa por parte do Governo. Portugal está sem chão, sem rosto, e decorado a preto e branco. Será que é possível acreditar em políticos que rejeitam o jogo da verdade, apesar de eleitos pela população?

As crises materiais que experienciamos não são mais do que o resultado de uma preocupante e alarmante crise de valores sem precedentes, que paulatinamente tem vindo a convelir, de forma intransigente e autoritária, os Países ocidentais.

São poucos os Governos que não têm cedido a imposições das mais dissemelhantes índoles, tanto no império privado, como no público. Essas pressões, apesar de algumas serem compreensíveis e profícuas quando agasalham pretensões das populações, traduzem-se em conquistas que somente beneficiam meia dúzia de espertos, hospedando não só avultados prejuízos para o vindouro, como também um semblante unicamente “material” e financeiro. O Estado tem constantemente demonstrado “acracia” no acompanhamento das formalidades da legislação.

Infelizmente os Governos fizeram com que os portugueses acreditassem que o conjunto de “simplicidades” que se foi perfidamente encaixando no ensino, na banca, na saúde, no endividamento e na ética jamais se iria pagar. As novas gerações não absolverão os governantes responsáveis pelo flagício da concepção de falsas “quimeras” e do facilitismo barato.

Em Portugal os alicerces que contribuíram para a fundação da associação sigilosa, de nome Maçonaria, ainda permanecem desenhados em tons de segredo, mistério e incógnita. Embora, tenha herdado algumas tendências, práticas e costumes, a Maçonaria moderna não parece ser uma fotocópia rigorosa da sociedade descendente dos maçons medievais. A Maçonaria medieval era cristã, uma vez que na Idade Média da Europa Ocidental existia unicamente uma Igreja, e qualquer indivíduo ou colectividade que não pertencesse à mesma, tornar-se-ia socialmente ostracizado e anatematizado. As lojas Maçónicas, indumentadas de trajes teóricos e especulativos, que se estabeleceram nas Américas acabaram por abandonar a personalidade iluminista, para adoptarem um temperamento maioritariamente liberalista, fundamentalmente nas altercações e guerras políticas que antecederam a sua própria emancipação. Será certamente oportuno referir que os traços liberais, iluministas e teístas desfilam nas lojas maçónicas em telas individuais, e não na Maçonaria como um “pleno”. Neste sentido, essas correntes não influenciaram a Maçonaria como um todo, tendo actuado unicamente, ou maioritariamente, nas lojas em que os associados partilhavam e respiravam essas próprias correntes.

A primeira grande loja regular portugue­sa, ou Grande Oriente Lusitano, apareceu em 1804, homologando-se a sua constituição em 1806. Na primeira metade do século XX, a Maçonaria foi enrodilhada na interdição decretada contra as sociedades secretas. Todavia, torna-se bastante complicado calcular a eficácia desse diploma legal no nosso País, uma vez que a influência, muitas vezes negativa, das lojas Maçónicas nesse século foi abundantemente perceptível.

Fotografar e reflectir sobre a “sociedade” maçónica é muito semelhante à entrada de um indivíduo num espaço físico enlameado. A índole secreta, a terminologia altamente específica dos rituais, a complexidade do “travejamento” maçónico, a ausência de estudos muito aprofundados sobre a Maçonaria, as fisionomias monolíticas, os semblantes unitários e o simbolismo bastante peculiar constituem obstáculos que têm forçosamente que ser ultrapassados pelos cidadãos, principalmente por aqueles que são, ou se auto-intitulam, “narradores” sociais.

Presentemente no mundo inteiro existem alguns milhões de maçons, com lojas maçónicas em diversas e importantes cidades. A esmagadora maioria dessas “confrarias” permanece encerrada para a maior parte da população, embora as mesmas, e com relevante fundamento, tenham sucessivamente permanecido abertas às desconfianças. Há pensadores que defendem a existência de duas “assembleias” no seio da Maçonaria. Uma externa, correspondente aos filiados que não fazem a mais pálida ideia de quais são os autênticos movimentos, deliberações, actividades e propósitos da irmandade, e outra interna respeitante a um grupo muito mais restrito, conhecedor dos maiores e mais importantes mistérios. Obviamente que aqueles que compõem o vértice externo não conhecem a existência do interno. Ou seja, parece que sempre existiram duas configurações de maçons, os de bastidores e os de palco, ou se preferirem os de máscara e os de sem máscara.

Ao longo dos últimos tempos a curiosidade e o interesse pela Maçonaria têm vindo a crescer. A verdade é que este tema tem sido abordado e debatido, de um modo progressivo, nos livros, artigos de opinião, entrevistas, programas de televisão, colóquios, palestras e simpósios. Porém, contemporaneamente, e paradoxalmente, as populações não aconchegam muito mais conhecimento do que antigamente.

Existem inúmeras incógnitas sobre a Maçonaria e sobre as pessoas que se resguardam na mesma, contudo a interrogação central devia estar intimamente associada à ausência de perspicuidade que parece embrulha-la. Há muitas questões que podem e devem ser levantadas aos maçons e à Maçonaria como sejam: Qual o motivo de tanto secretismo? Porque é que essas instituições não intervêm de forma profícua na sociedade? Que tipos de desafios são colocados à Maçonaria num País abandalhado e mal governado como o nosso? Que desígnios irreveláveis e transcendentes agasalha a Maçonaria? Estarão os maçons concentrados e vigilantes em relação às dificuldades que se vivem e a outras que se avizinham? Quais os programas já arquitectados pelos maçons que contemplam a conservação dos movimentos de assistência social e de filantropia? Será que a Maçonaria pode dar um contributo importante para que se transponham as tempestades que se apregoam? Será que a Maçonaria respira melhor quando o País navega em águas turvas? Será que a Maçonaria contribui para que Portugal seja uma nação adiada? Será que a Maçonaria alberga valores nobres que possa emprestar à sociedade? Será que as palavras condescendência, igualdade, cidadania, democracia e justiça fazem parte do dicionário maçónico? Será que no meio desta chuva de transfigurações, a Maçonaria continuará imperturbada e inalterada? Será que a Maçonaria em Portugal constitui um manancial de corrupção, putrefacção, comércio de influências e conspiração? Será que a Maçonaria pode ser apelidada de lobby? Será que a elite maçónica não janta “diariamente” com o poder político? Será que essa elite não é altamente manipuladora? Será que a Maçonaria necessita de ser discreta para ser secreta? Será que a sociedade em geral está disponível para ouvir as prédicas maçónicas?

Subsistem cada vez menos dúvidas relativas ao tráfico de influências e os companheirismos que a Maçonaria hospeda. Na obscuridade e comicidade dos rituais, vão aperfeiçoando-se jogos de poder em que conveniências privadas se trocam e se verbalizam. A sociedade sempre contemplou com desconfiança as correspondências crescentes entre o poder político e a Maçonaria, colocando em causa o poder democrático que é transferido do povo para colarinhos “abstractos”. Será que por vezes as nomeações governamentais não são obrigadas a respeitar um género de quota maçónica?

Entre a Maçonaria e a religião cristã existem fortes traços de antagonismo. Por que razão um determinado cristão, nomeadamente um católico, não pode integrar associações maçónicas sem perjurar o seu culto religioso? Convém saber que mesmo quando a associação maçónica não declara fragrâncias de irreligião ou agnosticismo, a incorporação de um Supremo Arquitecto do Universo não é harmonizável com a filosofia cristã dos mandamentos de Jesus Cristo. Como se podem decifrar estas posições? Será que as assembleias e as conferências episcopais das várias Igrejas também não agasalham algum secretismo?

Na realidade a sociedade portuguesa está disponível para escutar a Maçonaria. Muito por culpa dos seus membros, há um grande hiato entre os mesmos e o resto da população que eventualmente não sabe se também possui “ambiências” maçónicas. A ideia quase generalizada é que a Maçonaria é revolucionária e interesseira, e que passou “praticamente” ao lado da democracia, da cidadania, da responsabilidade social, do sufrágio universal, da instrução básica gratuita e da solidariedade social. Quais são afinal os efectivos estímulos e aguilhoamentos que se colocam à Maçonaria? Será que o problema está nos seus líderes? Qual a verdadeira importância da Maçonaria em Portugal?

Quando a curiosidade e talvez a salutar conveniência fazem com que um determinado cidadão questione um ocasionado maçom, o silêncio e o embaraço parecem ser a protecção e a resposta do mesmo. Embora, os maçons possam reunir-se em lojas publicamente estabelecidas, os seus mistérios continuam escondidos e os seus associados permanecem discretos. Os maçons que expliquem, de uma vez por todas, se agasalham alguma mais-valia para outorgar a Portugal.

Portugal necessita urgentemente do renascimento de relevantes vértices morais que outrora marcaram a tradição e memória portuguesa. A solidariedade, a equanimidade e a democracia jamais podem ser interpretadas como simples “comportamentos” literários. A consciência moral deve remeter os indivíduos para a avaliação e contabilidade das consequências proveitosas ou nocivas das nossas atitudes e disposições. Portugal precisa rapidamente de disposições legais que travem os gatunos e os mafiosos convictos que andam por aí espalhados, principalmente, e por serem os mais perigosos, os larápios de gravata e de avental que desfilam nos gabinetes “macios” ou nas lojas de veludo. Arrogância, corrupção e ganância constituem “fragrâncias” sempre impunes no nosso País.