Em 2019, o Produto Interno Bruto per capita (IPCpc), em Paridades de Poder de Compra (PPC), situou-se em 79,2% da média da União Europeia, mantendo o 16º lugar, segundo os dados divulgados esta semana pelo INE. Se em vez do IPCpc usarmos o Despesa de Consumo Individual per capita (DCIpc) em PPC a situação portuguesa melhora para 82.9% da média da UE e subimos para o 13º lugar deste ranking. E as nossas regiões e municípios como ficam se fizermos o mesmo tipo de análise, i.é, em PPC com a média da UE? Os dados mostram que todos ficamos mal na fotografia, mas que a Guarda, C. Branco e Covilhã são as mais fotogénicas da BI…

É importante para os países e as regiões fazer análises de seu poder de compra em PPC com a média da UE ou do mundo, por exemplo. Só assim ficamos com uma razoável informação de qual o nosso posicionamento relativo face aos outros já corrigido das diferenças de custo de vida. Com esse objetivo elaboramos este texto, um trabalho que reputamos de muito interessante para o país e as suas regiões ou municípios. No caso de Portugal o poder de compra atingiu 79,2% da média da UE em 2019, acima do ano anterior, colocando-nos em 16.º lugar entre os países da zona euro, de acordo com os dados divulgados pelo INE esta semana. De facto, em 2019, o (nosso) Produto Interno Bruto per capita (PIBpc), em Paridades de Poder de Compra (PPC), situou-se em 79,2% dessa média, valor superior em 0,9 pp ao observado em 2018 (78,3%), diz o relatório do INE. Este valor permite a Portugal manter a 16.º posição entre os 19 países da zona euro. Assim, entre estes 19 estados membros Portugal ocupava em 2019 a 16.ª posição, um pouco abaixo da Estónia (83,8), da Lituânia (83,5) e alguns pp acima da Eslováquia (68,2), Letónia (69,1) Grécia (66,5) (INE). O valor registado em 2019 é o mais elevado desde 2010 e, sendo a evolução entre 2018 e 2019 a que conduziu ao maior crescimento anual em 6 anos, subindo de 78,3% para 79,2%. Em 2019 e em termos nominais, o PIBpc de Portugal cresceu 4%, explicado pelo mesmo aumento nominal do PIB (4,0%) “visto que a população se manteve praticamente inalterada” (INE).

Apesar de todos os defeitos que este índice possa ter, lembremos que o PIB per capita (pc) em paridade de poder de compra (PIBpc/PPC) é um dos indicadores mais utilizados para análise dos níveis de desenvolvimento dos países ou regiões. Um exemplo curioso é o da China, que embora com uma economia nominalmente inferior à dos EUA, medida apenas por este indicador, pode ser considerada a maior economia do mundo se considerarmos apenas o custo de vida da sua população. Por estas e outras é que também se usam outros indicadores internacionais como é o caso da Despesa de Consumo Individual per capita (DCIpc). O PIBpc é, acima de tudo, um indicador de atividade económica, ao passo que a DCIpc é um indicador melhor para apreciar o bem-estar ou qualidade de vida das famílias.


Um parêntesis para referir que este último indicador, inclui para além das despesas de consumo final das famílias, as transferências sociais em espécie das Administrações Públicas para as famílias, como por exemplo as comparticipações públicas nos preços de medicamentos e outros produtos farmacêuticos. Com base neste índice ou indicador, DCIpc, Portugal registou um valor de 82,9% da média da UE em 2018, superior aos 81,5% registados em 2017. Este valor significa que o posicionamento relativo de Portugal é superior ao indicado pelo PIBpc no conjunto dos países considerados, subindo agora para a 13ª posição entre os países da UE. Entre 2017 e 2018, a DCIpc em PPC atingiu 82,9% da média da zona euro, valor superior em 1,4 pp ao observado em 2017 (81,5%) (INE). Um valor mesmo assim 18.5% inferior ao da média comunitária.


Tendo em atenção estes indicadores como se posicionam a BI e os seus municípios em PPC com a média da UE?


Visto o posicionamento de Portugal em termos de IPCpc e em PPC com a UE é agora interessante ver qual o posicionamento das nuts III/regiões da Beira Baixa (BB) e Beiras e Serra de Estrela (BSE) e até dos seus municípios ponderando os nºs destas unidades concelhias com os coeficientes portugueses acima referidos. Dessa forma obtemos valores, em PPC com a média da UE, os valores do IPCpc e ainda a DCIpc. É o que se pode ver no quadro seguinte. Assim, em termos de IPCpc/PPC temos primeiro para as NUTS III Beira Baixa: 85.4% para o IPCpc, o que dá apenas 67.6% para o IPCpc/PPC e 70.8% de DCIpc/PPC, resp., da média padrão. Por sua vez para as BSE temos valores ainda mais baixos, 78.5% para o IPCpc, 62.2% para o IPCpc/PPC e 65.1% para o DCIpc/PPC, resp., entre 65% e 79% nos 3 indicadores, valores muito aquém do que desejaríamos.


Por concelhos, a Guarda que é o município ‘melhor’ posicionado da BI com 96.2% de IPCpc, 76.2% de IPCpc/PPC e 79.7% de DCIpc/PPC, 3.8% a menos da média nacional em termos de IPCpc mas 23.8% abaixo em termos de IPCpc/PPC e 20.3% abaixo da média em causa. Por sua vez os valores de C. Branco são 95.8% (-4.2%), 75.9% (-24.1%) e 79.5% (-20.5%), na mesma ordem dos três indicadores. O terceiro município é a Covilhã com valores 86.6% (-13.4%), 68.6% (-31.4%) e 71.8% (-28.2%) ainda na mesma ordem. Referimos os 3 concelhos melhor posicionados e vamos ver também os três com valores mais baixos: Mêda 62,06% (-37.4%), 49,2 (-50.8%) e 51,4 (-48.6%), resp.; Penamacor 60,56% (-39.5%), 48,0 (-52%) e 50,2% (-49.8%), r. e finalmente Fornos de Algodres 58,81% (-41.2%), 46,6% (-53.4%) e 48,8% (-51.2%), r.. Para não tornar a análise tão cansativa os valores dos restantes concelhos da BI e ainda Sertã, Vila de Rei, Portugal, Continente, Lisboa e Viseu, deixados apenas para efeitos comparativos, podem ver-se no quadro anexo.


Estes valores são demasiado secos e cruéis para Portugal e Beira Interior, por um lado porque nenhum dos concelhos da BI tem um poder de compra que chegue à média nacional, por outro porque em PPC os nossos concelhos estão entre 46.6% (F. Algodres) e 76.2% (Guarda) em termos de IPCpc da média da UE e porque, mesmo no caso do DCIpc em PPC os valores concelhios oscilam apenas entre 78.3% (F. Algodres) e 79.7% (Guarda), mesmo no melhor caso 20.3% abaixo da média comunitária. Triste sina a deste cantinho à Beira-Mar plantado.


Não queria terminar esta crónica de fim de ano sem desejar a todos um Feliz Natal e um ótimo Ano de 2021, tanto quanto possível livre da pandemia do Covid-19 que tantos problemas tem trazido à nossa economia e ao nosso bem-estar geral ao longo destes cerca de 10 meses que já decorreram desde que o Covid-19 decidiu fazer a sua aparição por cá.

IPCpc, IPCpcPPC e DCIpcPPC por NUTS III e município2017
       Indicador per CapitaIPCpcPPCDCIpcPPC
 NUT Beira Baixa85,4167,670,8
NUT Beiras e Serra da Estrela78,4962,265,1
Guarda96,2076,279,7
Castelo Branco95,8475,979,5
Covilhã86,5868,671,8
Fundão77,9461,764,6
Seia76,1560,363,1
Almeida74,2258,861,5
Sertã72,5657,560,2
Vila Velha de Ródão71,7456,859,5
Belmonte71,2756,459,1
Proença-a-Nova68,9754,657,2
Idanha-a-Nova67,6353,656,1
Figueira de Castelo Rodrigo66,8152,955,4
Trancoso66,6552,855,3
Vila de Rei66,2452,554,9
Gouveia65,9152,254,6
Celorico da Beira65,0451,553,9
Manteigas63,8550,652,9
Oleiros63,5950,452,7
Sabugal63,4450,252,6
Pinhel62,8249,852,1
Mêda62,0649,251,4
Penamacor60,5648,050,2
Fornos de Algodres58,8146,648,8
Portugal100,0079,282,9
 Continente100,6779,783,5
Lisboa219,63173,9182,1
Viseu94,4174,878,3